Sondagens

A manchete, o destaque e o inevitável editorial do Público de hoje lembraram-me uma pequena história contada por Albrecht Mueller, economista e sociólogo, deputado do SPD de 1987 a 1994, de 1970 a 72 um dos principais responsáveis pela campanha eleitoral de Willy Brandt e de 1972 a 1983 director do Departamento de Planeamento da Chancelaria sob Willy Brandt e Helmut Schmidt. Hoje é um dos autores do blog político mais lido e citado na Alemanha.

Nos anos 80, antes de umas eleições estaduais na Renânia do Norte-Vestefália, os responsáveis pelo planeamento da campanha eleitoral do SPD encontraram-se em casa do director de campanha. Depois de um profundo debate e tomadas de decisões sobre vários projectos da campanha eleitoral, o director da campanha expôs ainda um problema especial e colocou uma questão: Manfred Guellner, director da Forsa (empresa de sondagens) queria saber que resultados desejava o SPD na próxima sondagem – um bom resultado para provocar um efeito multiplicador ou um mau resultado para assinalar o perigo em que se encontrava a continuação do SPD à frente do Governo do Land e assim mobilizar à direcção do SPD no Estado os próprios militantes e simpatizantes. Mas não só o SPD tem destas histórias. Já em 1965 o Instituto Allensbach (considerado mais próximo da CDU) publicou vários resultados empolados para o SPD com o claro objectivo de mobilizar todo o potencial conservador da CDU e assustá-lo com a mudança do Governo da CDU há 16 anos no poder. Dufhues, dirigente da CDU, reconheceu depois das eleições que queriam conscientemente influenciar a opinião dos eleitores.

Devemos recordar estas experiências quando “vimos, ouvimos e lemos” as sondagens e os respectivos comentários e análises: trabalho de propaganda disfarçado de pesquisa de opinião pública. E dar a estas “análises”, com citações de trabalhos científicos e tudo, o mesmo valor que à leitura do futuro nas borras do café.

Deixe um comentário